Pular para o conteúdo principal
Artigo
Ética e decisões nas empresas
Tema
Pessoas e Produtividade
Ética e decisões nas empresas

INTRODUÇÃO
A discussão sobre a ética tem tomado um lugar de destaque no mundo dos negócios.

Será por quê? Será que é porque a ética tem aparecido como uma das estratégias não apenas de sobrevivência, mas, sobretudo, de expansão dos negócios?

Se for assim, nesta perspectiva, a ideia é demonstrar que a ética nem sempre deve ser entendida como ameaça ou obstáculo, mas como alavanca para o sucesso das empresas. Mas, no cenário contemporâneo, algumas empresas com pretensões de aumento de competitividade, escolhem tratar a ética não como aliada, mas como adversária.

Desta forma elas buscam o lucro imediato e amargam prejuízos no longo prazo. Então, como as empresas devem tomar suas decisões levando em consideração a ética e tendo uma perspectiva de lucro no longo prazo? O que leva empresas a procurarem o caminho das decisões baseado na ética?

Certamente não há uma causa única e explicativa deste movimento em torno da ética, mas é provável que a concorrência entre empresas, aliada às crescentes exigências de clientes cada vez menos tolerantes com abusos, estejam forçando as empresas a levar em conta este tema. Diante de clientes exigentes, as empresas pensam bastante antes de oferecer bens ou serviços que maculem negativamente suas imagens. Ao perceberem que não podem ser abusivos em relação aos clientes, as empresas estão introduzindo a ética em suas práticas.

A partir destes questionamentos iniciais vamos começar verificando a evolução da ética através dos tempos. Verificaremos como os tomadores de decisões devem decidir utilizando a ética como apoio nas determinações do futuro das organizações.

HISTÓRIA DA ÉTICA
Todo o ser humano é dotado de uma consciência moral, que o faz diferenciar entre o certo e o errado, bom ou ruim, justo ou injusto, e a partir deste discernimento avaliar suas ações. Então, capaz de ética.

A ética vem a ser os valores, que se tornam os deveres, incorporados por uma cultura e que são expressos em suas ações. A ética, portanto, é a ciência do dever, da obrigatoriedade, a qual rege a conduta humana.

A partir dos escritos de Platão e Aristóteles a ética ou a filosofia moral começa com Sócrates. Para Sócrates, a ética vai além do senso comum, pois o corpo aprisionava a alma que é imutável e eterna. A alma possuía um “bom em si” que poderia ser recordado pelo aprendizado.

A bondade o homem estava na alma e que o corpo para reconhecê-la teria que ser purificado. (CHAUÍ, 1995). Para Aristóteles a ética era subordinada à política. Acreditava que por ser um privilégio de poucos, que a monarquia e a aristocracia encontrar-se-ia a alta virtude. Para ele a ética deveria estar em consonância com a ordem vigente. “Cada Virtude seria um meio-termo entre dois extremos, e cada um desses extremos seria um vício”. (ARICÓ, pg.83. 2001).

Então a ética de Aristóteles era adaptativa, servindo às necessidades políticas, onde cada ser humano deveria se conformar com sua realidade. Por tanto era necessário a interferência da família e da educação para conter suas paixões.

Segundo Aristóteles a ética na prática era o que fazemos, visando a uma finalidade boa ou virtuosa. Isso leva a idéia de que o agente, a ação e a finalidade do agir são inseparáveis: “Toda arte, toda investigação e do mesmo modo toda ação e eleição, parecem tender a algum bem; por isso se tem dito com razão que o bem é aquilo a que todas as coisas tendem”. (ARISTÓTELES, 1984).

O mundo essencialista é o mundo contemplação, ideia compartilhada pelo filósofo grego Aristóteles: “a verdadeira vida moral (...) isto é, consagrar-se a procurar a felicidade na contemplação (...)” (SANCHEZ VASQUEZ, 1997). No pensamento filosófico dos antigos, os seres humanos aspiram ao bem e à felicidade, que só podem ser alcançados pela conduta virtuosa. Para a ética essencialista o homem era visto como um ser livre, sempre em busca da perfeição.

Esta por sua vez, seria equivalente aos valores morais que estariam inscritos na essência do homem. Dessa forma, para ser ético, o homem deveria entrar em contato com a própria essência, a fim de alcançar a perfeição. O homem, como qualquer ser, busca a sua perfeição, que acontecerá quando sua essência estiver plenamente realizada.

A ética dos antigos ou a ética essencialista apresenta 3 aspectos:
1 – agir em conformidade com a razão;
2 – agir em conformidade com a natureza e com o caráter natural de cada indivíduo;
3 – a união permanente entre a ética – conduto do indivíduo – e política – valores da sociedade.

Nesta época, a ética era a forma de educar o sujeito moral –seu caráter – para propiciar a harmonia entre o mesmo e os valores coletivos, sendo ambos virtuosos. (SEVERINO, 1992).

A partir do cristianismo, principalmente de São Tomás de Aquino e Santo Agostinho, incorpora-se a idéia de que a virtude se define a partir da relação com Deus e não com a cidade ou com os outros. Deus nesse momento é considerado o único mediador entre os indivíduos.

Assim a fé e a caridade passaram a ser as principais virtudes. Para o cristianismo existia na ética o livre arbítrio. Sendo que o primeiro impulso da liberdade, advinda do livre arbítrio, dirigia-se para o mal ou para o pecado. O ser humano passa a ser fraco, pecador, dividido entre o mal e o bem.

Para os cristãos a forma para melhorar a conduta seria a lei divina. A ideia do dever surge nesse momento. Assim, temos três tipos de condutas a partir da ética: a moral ou ética – baseada no dever; a imoral ou antiética e a indiferente à moral.

O mundo, a partir do século XVII, sobre profundas transformações por meio das revoluções religiosas com Martim Lutero; científica com Copérnico e filosófica com Descartes. Estas revoluções oprimem um novo pensamento na era moderna, caracterizada pelo Racionalismo Cartesiano onde a razão é o caminho para a verdade, e para chegar a ela é preciso um discernimento, um método.

Então, em oposição à fé surge o poder da razão de discernir, distinguir e comparar. Este é um marco na história da humanidade que doravante acolhe um novo caminho para se chegar ao saber. O saber científico pauta-se num método e o saber sem método é mítico ou empírico.

A ética moderna traz à tona o conceito de que os seres humanos devem ser tratados sempre como fim da ação e nunca com meio para alcançar seus interesses.

Essa idéia foi contundentemente defendida por Immanuel Kant, um dos principais filósofos da modernidade. Kant afirmava que: “não existe bondade natural. Por natureza somos egoístas, ambiciosos, destrutivos, agressivos, cruéis, ávidos de prazeres que nunca nos saciam e pelos quais matamos, mentimos, roubamos”. (ABBAGNANO, 1998).

Kant afirma que se nos deixarmos levar por nossos impulsos, apetites, desejos e paixões não teremos autonomia ética, pois a natureza nos conduz pelos interesses de tal modo que usamos as pessoas e as coisas como instrumentos para o que desejamos. Não podemos ser escravos do desejo. Para isso devemos agir conforme o Imperativo Categórico, ou seja, o ato moral deve concordar com a vontade e com as leis universais que ela dá a si mesma: ”Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal”. (KANT, 1994).

E ainda afirmava que “ (...) a moralidade de um ato não deve ser julgada por suas conseqüências, mas apenas por sua motivação ética”. Sustentava que o homem é o centro do conhecimento e da moral. Sendo o ato ético e moral criado e seguido pelo homem, isso passa a ser incondicionado e absoluto. (KANT, 1994). Friedrich Hegel, no século XIX, traz uma nova perspectiva complementar e ainda não abordada pelos filósofos. Apresenta a perspectiva: homem, cultura e história. Mostrando que a ética deve ser determinada pelas relações sociais.

O homem como sujeito histórico e cultural, a sua vontade subjetiva deve ser submetida à vontade social, das instituições da sociedade. Assim, a vida ética deve ser “determinada pela harmonia entre vontade subjetiva individual e a vontade objetiva cultural” (ABBAGNANO, 1998).

Por meio desse exercício, interiorizamos os valores culturais de tal maneira que passamos a praticá-los instintivamente, ou seja, sem pensar. Se isso não ocorrer é porque esses valores devem estar incompatíveis com a nossa realidade e por isso deve ser modificados. Nesta situação ocorrem crises internas entre os valores vigentes e a transgressão deles.

Na atualidade o conceito de ética se fundiu nestas duas linhas de pensamento. Na visão da ética praxista, o homem tem a capacidade de julgar, ele não é totalmente determinado pelas leis da natureza, nem possui uma consciência totalmente livre.

O ser humano tem uma co-responsabilidade frente as suas ações. Com raízes na apropriação de coisas e espaços, na propriedade, a ética pragmática tem como desafio o colocar-se no lugar do outro com misericórdia, responsabilização e solidariedade para transformar o Ter, o Saber e o Poder em recursos éticos para a solidariedade, contribuindo para a igualdade ente os homens. (SEVERINO, 1992).

O ser humano é visto como sujeito histórico-social, e como tal, sua ação não pode mais ser analisada fora da coletividade. A partir daí a ética ganha uma dimensionamento político avaliando os valores nas relações sociais. Uma ação eticamente boa é politicamente boa, e contribui para o aumento da justiça, distribuição igualitária do poder entre os homens.

No momento histórico que vivemos existe um problema ético-político grave. Forças de dominação teriam se consolidado nas estruturas sociais, econômicas e empresariais, mas através da criticidade seria possível desvelar a dissimulação ideológica que existe nos vários discursos da cultura humana.

Isto se dá quando estamos agindo com a totalidade dos esclarecimentos que a objetividade pode fornecer quando criticamente aplicada a práxis, feita através da intencionalidade subjetiva e reflexão crítica. (SEVERINO, 1992). A partir deste ponto para abordar a ética empresarial vamos nos ater a ética da responsabilidade e a ética da convicção de Max Weber.

A ÉTICA EMPRESARIAL
Neste momento histórico em que o problema ético-politico se dá principalmente nas estruturas econômicas empresariais temos por outro lado uma crescente criticidade por parte da sociedade. Por tanto torna-se imperativo entender alguns significados mais profundos da ética e sua relação direta com o mundo dos negócios. Em geral, as opiniões das pessoas sobre a ética tendem a ser absolutas ou incondicionais.

Para essas pessoas a ética é basicamente “fazer o bem”. Se uma ação está distante de tal perspectiva é imediatamente caracterizada como “má” e “anti-ética”. Assim, a relação entro sendo comum e ética é uma relação marcada pela unilateralidade, uma vez que ética é caracterizada de forma irrestrita e unidimensional. A partir dos vários pensadores retratados no tópico anterior é que deriva a clareza de que a ética está relacionada à ação prática dos homens, não a discursos bem intencionados mas sem qualquer conexão sólida com o mundo da vida.

Também é desses pensadores que herdamos a capacidade crítica de perceber o abismo existente entre o que é dito e o que é efetivamente feito em nome da ética no interior das organizações. Se no plano discursivo a ética aparece como “imperativo categórico” de Kant ou como “valor universal”, no mundo concreto da vida nega-se tudo isso, invariavelmente em nome do auto-interesse. (PONCHIROLLI, 2002).

A tensão permanente entre “valores universais” e “valores individuais” é a tônica da investigação ética. A investigação ética, além de visar ao estabelecimento de conceitos sobre o comportamento moral do seres humanos, pode ser compreendida a partir de que toda a decisão que implicar danos ou prejuízos de qualquer forma a outros não pode ser considerada ética.

Para Max Weber a dimensão ética relacionada às crenças íntimas é de pouco proveito e, em certos casos, até prejudiciais às tomadas de decisões. “Toda a atividade orientada segundo a ética pode ser subordinada a duas máximas inteiramente diversas e irredutivelmente opostas. Pode orientar-se segundo a ética da responsabilidade ou segundo a ética da convicção. Isso não quer dizer que a ética da convicção equivalha a ausência de responsabilidade, e a ética da responsabilidade a ausência de convicção. Não se trata disso, evidentemente.

Não obstante, há oposição profunda entre a atitude de quem se conforma às máximas da ética da convicção – diríamos, em linguagem religiosa, “o cristão cumpre seu dever e, quanto aos resultados da ação, confia a Deus” – e a atitude de quem se orienta pela ética da responsabilidade, que diz: “Devemos responder pelas previsíveis conseqüências de nossos atos”. (WEBER, 1968, p. 114).

Segundo esta citação de Weber, a ética da convicção deriva da ética religiosa, buscando inspiração, autoridade e legitimidade no passado, ao passo que a ética da responsabilidade legitima-se e se orienta para o futuro. Por tanto estamos diante da dialética entre tradição e modernidade. Pois, quanto a ética da convicção tem seus fundamentos muito mais fincados nas tradições passadas e internalizadas pelo individuo como se fossem suas, a ética da responsabilidade busca sustentação no futuro.

A diferença fundamental é que a ética da responsabilidade induz o homem a se reposicionar diante de suas próprias decisões, não cabendo remeter aos outros a responsabilidade futura pelos seus atos. A partir dos estudos de Weber fica evidente que uma ética apoiada apenas em convicções íntimas não é adequada para os tomadores de decisões das grandes empresas ou organizações. As decisões de empresários ou quaisquer homens de ação, ao contrário, devem estar apoiadas em uma ética que vá além das convicções íntimas, a ética da responsabilidade, que não concede espaço para delegação de poderes. Assim, justifica-se a defesa de que a ética empresarial predominante é a da responsabilidade. Isto porque, cada vez mais se configuram cenários que obrigam as empresas, instituições e pessoas a optarem por decisões éticas não por fazer o bem a todos ou por convicção, mas, primeiro, por estratégias de sobrevivência e depois, pela necessidade imperativa de expansão dos negócios. (PONCHIROLLI, 2002).

Então a ética da convicção é, para Weber, o conjunto de normas e valores que orientam o comportamento do homem na sua esfera privada. Já a ética de responsabilidade representa o conjunto de normas e valores que orientam a sua decisão a partir da sua posição como homem de negócio. Estamos diante de um dilema. Tomemos como exemplo o caso de uma empresa em que o dirigente tenha a convicção pessoal de que é necessária a redução da poluição emitida pela a empresa. Ele tem a convicção de que isso é muito importante para o meio ambiente e consequentemente para o raça humana.

Porém como executivo da empresa depara-se com escassez de recursos e a necessidade de aumentar os lucros. Perante esse dilema, o executivo precisa tomar uma decisão: ou ele segue suas convicções (ética da convicção) e toma dinheiro emprestado para fazer investimentos para a redução da poluição; ou toma outra medida como executivo que precisa aumentar os lucros (ética da responsabilidade), não toma dinheiro emprestado e não faz os investimentos garantindo o lucro.

Neste particular, fazer referencias à ética empresarial ou a ética dos negócios implica estudar e tornar inteligível a moral vigente nas empresas capitalistas contemporâneas e, em especial, a moral predominante no mundo dos negócios. 

CONCLUSÕES
Diante da necessidade imperativa de expansão dos negócios e do lucro o estudo da ética empresarial é fundamental para orientar como as empresas devem se posicionar? Fica evidente que Weber admite que organizações que se antecipam no que se refere a tomadas de decisões amparadas na ética, diferentemente do que se poderia pensar, tendem a aumentar seus níveis de competitividade, contrariando outras análises que insistem em acentuar possíveis incompatibilidades entre ética e sucesso empresarial. Se para muitos do mundo dos negócios as supostas exigências da ética se apresentam invariavelmente com verdadeiros obstáculos, para outras as dificuldades foram transformadas em oportunidades de êxito e expansão.

É importante destacar que a ética é uma ótica e isto significa que existem múltiplas morais, historicamente fundamentadas, e que há éticas no plural que se desdobram em várias abordagens. Então podemos considerar a conciliação entre a ética da responsabilidade e a ética da convicção.

Fica evidente a importância da ética no mundo dos negócios tendo como base a necessidade do executivo de integrar a ética da responsabilidade com a ética da convicção. Neste sentido, a responsabilidade do executivo aparece como o substrato moral. Segundo HEEMANN (2001), a ética não se aprende ouvindo ou lendo belos discursos.

É preciso educar a mente para sentir a ética penetrando e transformando nosso corpo por inteiro. A ética só se torna eficaz à medida que os tomadores de decisões adquirem a capacidade de se indignar diante de ações ou fatos que antes não lhes afetavam.

Vídeo Relacionado

Economista comportamental Dan Ariely estuda as falhas no nosso código moral: as razões ocultas pelas quais achamos certo trapacear ou roubar (às vezes).

Estudos criativos apoiam sua teoria de que somos previsivelmente irracionais -- e podemos ser influenciados de formas que não conseguimos nem imaginar.

Conheça uma solução para este tema
Pessoas e Produtividade

Soluções para promover a inovação e produtividade, através do engajamento, autoconsciência e desenvolvimento.

Para saber mais, participe deste programa

A capacidade de liderar tem sido apontada como um elemento de diferenciação na administração moderna, contribuindo de forma ativa pelo sucesso ou fracasso de uma organização. Assim, o atual mercado competitivo restringe espaço para lideranças que não compreendem o lado humano.

Liderança Inspiradora

Newsletter

Faça parte de nossa rede de relacionamento, e receba novidades em seu email.
Fique tranquilo, nós não enviamos emails indesejados.

Wrapper

Deixe seu comentário

COMO PODEMOS AJUDAR?

Não encontrou o que procurava? Envie um email ou conte como podemos ajudar a sua empresa.

ENTRE EM CONTATO