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Artigo
Plantio direto e criação colaborativa
Tema
Gestão de Vendas
criação colaborativa

Hoje em dia muito se fala em co-criação – o desenvolvimento de produtos e serviços com a participação ativa dos clientes – em contraponto com o modelo tradicional, onde a empresa desenvolve e testa exaustivamente um produto antes de lançar no mercado.

O que poucas pessoas, especialmente do meio urbano, sabem, é que o Brasil teve na década de setenta e nos anos seguintes um exemplo concreto deste modelo que simplesmente revolucionou a agricultura nacional e elevou o país não só ao patamar de um dos maiores produtores de alimentos, como também uma referência mundial em tecnologia para agricultura tropical.

O modelo de agricultura que se praticava no Brasil, até meados dos anos 80, inclusive durante o período de avanço das lavouras para as novas fronteiras agrícolas, oeste do Paraná e no Centro Oeste do país, era um modelo quase totalmente baseado no que se praticava nos Estados Unidos e na Europa, com alguma adaptação local.

Uma das principais operações na instalação de uma lavoura era o preparo do solo, que consistia em lavrar e gradear várias vezes até que toda a cobertura vegetal estivesse enterrada e o solo completamente destorroado. Em seguida, era feita a semeadura.

Esta prática tinha vários inconvenientes, como a necessidade de ter condições ideais de umidade no solo para que a operação de preparo fosse executada (nem muito molhado, nem muito seco), o que nem sempre era possível por questões climáticas e os agricultores, para conseguir plantar no prazo certo, acabavam preparando o solo em condições longe das ideais. Outros problemas eram a compactação do solo pelo trânsito intenso de máquinas, fazendo com que as plantas não se desenvolvessem bem; falta de cobertura no solo, que ficava desprotegido tendo a camada mais fértil arrastada pelas chuvas; gastos com combustível e maquinário no preparo do solo e outros problemas.

Esta situação comprometia a produtividade e ameaçava seriamente a atividade agrícola, pois milhões de toneladas de solo fértil eram arrastadas todos os anos levando ao assoreamento e contaminação de rios e deixando milhões de hectares de terra sem condições de plantio.

A solução deste problema surgiu através de uma parceria entre alguns produtores rurais e técnicos visionários, empresas de máquinas agrícolas e insumos e instituições de pesquisa e extensão que se uniram para criar o sistema de plantio direto, cuja primeira experiência aconteceu em 1976, na região dos Campos Gerais, no Paraná. Foram muitas tentativas e erros até se tornar o modelo de sucesso que é hoje, ocupando quase que 100% das áreas plantadas com lavouras de grãos no Brasil e tendo sido responsável pelo aumento de produtividade e, principalmente, a preservação de um dos maiores recursos naturais deste país e do mundo: o solo agrícola para produção de alimentos.

Este modelo bem sucedido foi baseado em uma parceria onde houve participação ativa do cliente final (o agricultor); de instituições de pesquisa, que trouxeram informações técnicas e contribuíram com experimentos conduzidos de forma científica; de empresas, que forneceram tecnologia e recursos, e de órgãos de extensão, que contribuíram com a disseminação dos resultados. Como toda a novidade, havia muita descrença e ceticismo. Ainda lembro de um professor de Plantas e Lavouras na faculdade de agronomia que eu cursei (me formei em 1984) afirmar que aquilo era coisa de malucos.

Foi justamente a atitude de tentar fazer diferente; de avaliar que a técnica corrente, aceita e inquestionável na época, estava, na verdade, condenando toda uma atividade e comprometendo os recursos naturais do país. Mas, mais importante do que isto, foi a forma colaborativa como toda uma tecnologia nova foi gerada. Os clientes que estavam presentes no processo e eram, até mesmo, protagonistas, entendiam que o novo implica em arriscar, em tentar, errar e corrigir rumos até que uma solução seja encontrada. E mais: que não há nada tão bom que não possa ser melhorado.

As empresas participantes tiveram visão de longo prazo e entenderam que precisariam investir recursos para apoiar algo ainda incerto, mas entendido como necessário. A parceria com os clientes e o apoio inicial deram a estas empresas, com o tempo, uma vantagem competitiva que as demais, que ficaram esperando para ver, não tiveram.

Esta forma de trabalhar se transformou em um modelo de sucesso. Hoje em dia, o modelo de colaboração desenvolvido durante a criação do Plantio Direto é utilizado em outras áreas da produção agrícola. Os produtores rurais participam ativamente do desenvolvimento de novas máquinas, novas cultivares, novas técnicas de plantio e tratos culturais.

O Brasil deixou de ser um mero copiador de receitas prontas, desenvolvidas em países do hemisfério norte, com situação de clima, solo e subsídios fiscais que não temos por aqui, para ser um protagonista na geração de tecnologia para países de clima tropical, exportando conhecimento para o mundo todo.

O mais inusitado desta história é que não estamos falando de uma empresa de tecnologia, em um país de “primeiro mundo” (se é que esta classificação ainda é válida), criada por jovens empreendedores. Estamos falando de uma experiência que aconteceu aqui, em um setor que por muito tempo foi considerado “primário”, “atrasado” e cujos protagonistas eram pessoas já bem maduras. Recentemente encontrei um dos principais, no Paraná. Continua um visionário, com planos ambiciosos para o futuro e com uma visão muito aguçada com relação a questões que envolvem sustentabilidade e inovação.

Não basta o cliente ser conhecido pela empresa. Ele precisa ser envolvido e participar ativamente da vida da corporação. Isto é um modelo que dá certo e é o caminho mais propício para que as necessidades de ambos – cliente e empresa – sejam satisfeitas. Também devemos incluir nesta equação todos os demais stakeholders: funcionários, acionistas, fornecedores e comunidade em geral.

Este modelo foi facilitado com o surgimento da Internet, mas não depende exclusivamente dela (na época da introdução do Plantio Direto, sequer existiam telefones celulares), não é modismo e não é coisa das novas gerações apenas. É algo que precisa ser cultivado por todos.

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